O culto mariano é uma constante na cultura portuguesa e peninsular, existindo desde o princípio da nacionalidade, com as célebres cantigas de santa maria, de afonso X. Conhecer a história do culto de nossa senhora dos remédios, em lamego, e o espaço de feição constituem uma das prioridades desta investigação. Esta investigação centra-se entre os séculos xvii/XX como período de análise, no pressuposto de que essa delimitação permite analisar importantes e dissemelhantes contextos político-culturais e religiosos. Se é certo que, a primeira baliza temporal se justifica pela necessidade de examinar a raiz antropológica e devocional do início da formação do culto e os primórdios da irmandade de nossa senhora dos remédios, enquanto gestionária do culto, a segunda limita o período da observação. Os aportes documentais foram as atas da irmandade de nossa senhora dos remédios (ainsrl) e alguns apontamentos da história da igreja da diocese de lamego cujos níveis de leitura variam conforme a contextualização sociocultural, histórica, antropológica e ideológica da época. Daí que não se pretenda proceder a uma interpretação do perfil teológico-pastoral da devoção, mas sim, face ao reconhecido interesse destes documentos bem como à pluralidade das matérias aqui versadas, compreender as sociabilidades e representações políticas cuja representação religiosa não é senão uma parte. O culto foi introduzido na sequência do movimento da reforma religiosa e das resoluções do concílio de trento (1545-1563), pois a atmosfera era propícia a estados transitórios de dulia para a hiperdulia, acabando por contribuir de forma capital para a mutabilidade da devoção de santo estevão para a nossa senhora dos remédios. Esta mobilidade foi ampliada pela igreja, inserindo a devoção à virgem dos remédios numa estratégia de legitimação da defesa dos seus interesses, apresentando-a como miraculosa, manifestada através de lendas de milagres que culminou na atenção e fervor religiosos do povo. No intuito de criar um centro de peregrinações foi fundado o santuário de nossa senhora dos remédios, no monte de santo estevão, em lamego, cuja primeira pedra foi lançada no ano de 1750. A sua construção foi fundamental para enquadrar e dirigir o fenómeno devocional que exponencialmente ia crescendo, arrastando públicos/romeiros diferentes, afluindo crentes e não crentes. Para estabelecer os perfis dos romeiros recolheu-se uma amostra através de um inquérito estruturado realizados no dia oito, do mês de setembro, nos anos de 2007 e 2009, com o objetivo de compreender de que forma estes indivíduos se relacionam e/ou foram harmonizados no sistema religioso, os gostos, as preferências e o modo como o culto tem vindo a ser influenciado por outros cultos, em particular pelo culto de nossa senhora de fátima.